Desemprego atinge 26,6% dos jovens no País, diz IBGE

Número é duas vezes superior à média nacional, que é de 12,4%

Os quatro semestres para a conclusão da faculdade de Gestão de Recursos Humanos e as aulas de inglês não foram suficientes para Thamires da Silva Ignacio, de 21 anos, deixar as estatísticas do desemprego.

Ela faz parte do grupo de 26,6% dos brasileiros de 18 a 24 anos que buscam uma colocação no mercado de trabalho – número que é duas vezes superior à média nacional de 12,4%, de acordo com o IBGE. Muitos, como a jovem, enfrentam filas para o primeiro registro em carteira.

Falta de experiência é o principal motivo para esse grupo ser o que mais sofre com o reduzido número de vagas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 4,1 milhões de brasileiros na faixa etária de 18 a 24 anos estão fora do mercado de trabalho – o que representa um terço dessa população. “Está difícil. Pesa a pouca vivência na área em que me formei”.

Para a gerente da Pnad, Cimar Azeredo, as barreiras impostas para os jovens ingressarem no mercado de trabalho explicam os números. “Capacitar uma pessoa para o mercado de trabalho custa caro. Por isso, o mercado tende a buscar quem já tem experiência profissional”.

Com a retração generalizada, Thamires desistiu de procurar colocação relacionada à sua formação profissional. “Estou tentando de tudo, desde telemarketing a cargos como vendedora de loja”, comenta.

Estudo divulgado nesta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) comprova esse movimento. 

Segundo a entidade, o número de pessoas com Ensino Superior mais do que dobrou em algumas das ocupações não típicas para a escolaridade. Entre os vendedores em domicílio, por exemplo, o total de ocupados com graduação aumentou 187% entre 2014 e 2017, indo de 49,2 mil para 141,2 mil. 

Já a quantidade de condutores de automóveis (táxis e aplicativos de transporte) na mesma situação disparou 125% no período: foi de 47 mil para 105 mil. A maioria se encaixa no perfil de 18 a 25 anos.

Frustração

O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, afirma que o cenário gera dupla frustração entre os trabalhadores. “Aqueles com baixa formação demoram mais para ter acesso ao mercado de trabalho e os profissionais com graduação (e que aceitam cargos diferentes de sua área) têm remuneração abaixo do investido na universidade”, explica.

Para ele, a crise e o desemprego alto são justificativas para o trabalhador aceitar um cargo inferior à formação. Ainda segundo o estudo, o número de trabalhadores com Ensino Superior nos serviços de limpeza disparou 117% entre os períodos analisados. 

Lúcio afirma que essa movimentação expulsa do mercado de trabalho a parcela mais vulnerável da população, com baixa formação profissional.

Conforme o Pnad, a taxa de desemprego de pessoas com idade entre 26 e 39 anos é de 34,6%. Ao menos um em cada três trabalhadores nessa faixa etária busca uma recolocação, totalizando mais de 4,5 milhões de brasileiros. “As exigências estão cada vez maiores”, sustenta Ione Barbosa Santiago, de 26 anos, há oito meses em busca de recolocação.

Mesmo com registro em carteira em áreas como vigilância e telemarketing, Paulo Henrique Santos, de 26 anos, está há quase seis meses desempregado. Ele cita ser cada vez mais difícil disputar vagas apenas com o Ensino Médio completo. “Até para serviços gerais estão pedindo o diploma de Ensino Superior. Mas como vamos pagar os estudos se não conseguimos emprego?”, desabafa.

Formação adiada

A maior taxa de desemprego brasileira se concentra entre a população com idade entre 14 e 17 anos, com 42,7% – mais do que o triplo da taxa geral. Porém, nessa faixa etária, a legislação trabalhista restringe a atuação profissional, sendo exercida como menor aprendiz. Para assegurar uma vaga no mercado de trabalho, estudantes estão adiando a conclusão de disciplinas obrigatórias ou a entrega do trabalho final do curso (TCC).

Antes da recessão, muitos estudantes preferiam esperar por um emprego efetivo com salário melhor após formado. Com medo de ficar desempregado, Matheus Lucas Araújo Santos, de 22 anos, pretende adiar por quatro semestres sua formatura em Engenharia de Produção, pela Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da Universidade de São Paulo (USP). “O estágio é uma boa forma de começar a atividade profissional”.

Professor do Centro de Políticas Públicas na USP, Naercio Menezes diz que essa estratégia está se tornando frequente. Vinicyus Jabbur Sarro, de 30 anos, foi um que usou essa medida para fugir da fila do desemprego. Ele adiou a entrega do TCC na Fatec, em Santos, para cumprir estágio em uma multinacional. “Fiz isso para obter crescimento profissional na empresa em que estava”.

Hoje, Sarro tem dez anos de experiência no mesmo local em que estagiou e ocupa o cargo de consultor interno em tecnologia digital. Mas ele avalia que o tempo extra na faculdade não valeu a pena. “Poderia ter focado meu tempo em outras prioridades e em mais cursos na área que agregassem valor profissional”.

Crescimento

Na Universidade Santa Cecília (Unisanta), por exemplo, houve crescimento de 5% no número de alunos inscritos em estágios no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. “São cerca de 5 mil empresas que disponibilizam suas vagas para estágios remunerados e oportunidades de emprego aos alunos”, diz o diretor do departamento de Relações Universidade, Empresa e Estágios da Unisanta, Luiz M. Vidal de Negreiros.

O presidente do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), Carlos Henrique Mencaci, destaca que adiar a conclusão da faculdade é mais viável em instituições públicas. Isso porque, nas particulares, paga-se pelas disciplinas repetidas ou não cursadas.

Apesar de não haver estudos sobre o fenômeno, ele analisa como a insegurança gerada pelos índices de desemprego leva os estudantes a adiar a conclusão da graduação. “A tentativa de prorrogar a atividade pode dar certo, mas é necessário analisar, pois há chance de dar errado se a empresa decidir não estender o ato escolar educativo”.
 

Fonte: A Tribuna On-line